400 anos de Quinta do Crasto 400 anos de Quinta do Crasto

400 anos de Quinta do Crasto

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Quatro séculos de história, os últimos 100 na mesma família. A Quinta do Crasto está em festa e tem dois vinhos extraordinários para brindar.


Publicado em 10-Jan-2019

É para quem vem do Pinhão, descendo o Douro, que a Quinta do Crasto revela o seu melhor lado. Dali avistamos primeiro a centenária vinha Maria Teresa, virada a nascente, e que se estende por 4,5 hectares. Aqui se produz um dos melhores vinhos tintos do país, mas só em anos excecionais, pois nem sempre é engarrafado.

Logo a seguir chega a sua irmã gémea, a Vinha da Ponte, mais pequena com apenas 1,96 hectares, mas igualmente responsável por um vinho do outro mundo. Curiosamente, apesar da idade e de partilharem praticamente o mesmo terroir, os dois vinhos têm um caráter bem diferente e muito raramente se consegue que coincidam nos anos excecionais. Aliás, isso só aconteceu uma única vez.

400 anos de Quinta do Crasto | Unibanco

Já quem chega por terra passa pelo antigo portão, encimado pela inscrição: “Quinta do Crasto, 1615, 1918.” Duas datas, dois momentos marcantes na história da quinta. 1615 assinala a origem, obviamente, e embora se tenha perdido o rasto ao documento original, é simples traçar-lhe a história a partir de então: a construção e consagração de uma capela a Nossa Senhora da Arada, num dos pontos mais altos da quinta, em 1666; a escolha para figurar na demarcação pombalina que criou a primeira região vitícola regulada do mundo – uma das primeiras escolhidas, ainda em 1758, reconhecimento claro da qualidade dos seus vinhos -; as pragas do século XIX, oídio, míldio e filoxera, que dizimaram toda a produção uma e outra vez; a ascensão e queda das famílias que a geriram; os momentos de tristeza e de grandeza… Tal como ocorreu em 1918, quando foi adquirida por Constantino de Almeida, um bem-sucedido comerciante de vinhos do Porto e Brandy (“a fama que vem de longe”). Nessa altura, a quinta vinha de um longo período de abandono e a chegada deste homem foi proverbial, investindo na vinha, plantando e replantando, sempre de olhos postos no futuro. Hoje é a sua neta, Leonor d’Almeida Roquette, o marido, Jorge Roquette, e os três filhos de ambos quem colhe os frutos desse trabalho. Mas semea, também, e leva a fama da quinta cada vez “mais longe”, a mais de 50 mercados em cinco continentes.

Um dos trabalhos mais importantes em curso consiste precisamente no mapeamento genético daquelas duas vinhas, em conjunto com a UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), realizado com um nível de detalhe nunca tentado no nosso país, e que permitirá substituir cada cepa pelo seu exato clone, perpetuando assim as mesmas características e a mesma qualidade para a eternidade.

Quis então o acaso, ou a sorte, que fosse no ano do quadricentenário, em 2015, que Maria Teresa e Vinha da Ponte coincidissem pela primeira vez num ano extraordinário, o que permitiu à família, e ao enólogo Manuel Lobo, realizarem uma pequena experiência que há muito lhes atiçava a curiosidade: e se produzissem um vinho das duas vinhas em conjunto? O resultado chama-se Honore, e é um tinto extraordinário, produzido com cerca de 71% da Vinha Maria Teresa e 29% da Vinha da Ponte, o que representa de certa forma a dimensão no terreno de ambas as vinhas. O Honore tinto de 2015 está disponível em garrafas Magnum (1,5 l), 1615 garrafas mais precisamente.

Nesse mesmo ano, a equipa embarcava noutro projeto único e que atesta bem, mais uma vez, como é importante ter paciência numa quinta, e saber deixar o tempo correr. Com Constantino de Almeida vieram também três cascos de um Porto, na altura já com perto de 40 anos, e que a família soube preservar ao longo de todo este século, estagiando em pipas de castanho de 650 litros, para agora chegar até nós nas mais incríveis condições: 140 anos de frescura, vigor, suavidade e concentração extraordinárias. O Honore Porto chega-nos numa edição verdadeiramente luxuosa, com decanter em cristal da Vista Alegre a lembrar os socalcos do douro, inserções em prata trabalhada pela Topázio e uma caixa em madeira de nogueira trabalhada à mão. Deste Very Old Tawny Port foram decantadas em 2015 apenas 400 garrafas, uma por cada ano da quinta e que agora estão prontas a serem saboreadas. São duas edições muito luxuosas e com um preço a condizer, o Honore tinto 2015 custa 1000 euros, e o Very Old Tawny Port 5500. Mas se estes valores são demasiado elevados pode sempre brindar com um Crasto DOC (8,90 num supermercado), ou mesmo com um Reserva Vinhas Velhas, que até pode encontrar a colheita de 2015 por 27,50 euros na Garrafeira Nacional.