Porque tomamos decisões erradas? Porque tomamos decisões erradas?

Porque tomamos decisões erradas?

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Quando se fala de dinheiro, somos incapazes de ser racionais. Conheça a teoria que deu ao norte-americano Richard Thaler o Prémio Nobel de Economia.


Publicado em 01-Jun-2018

Considera-se um bom gestor do orçamento mensal? Será que a maioria das decisões que toma diariamente são racionais? Segundo Richard Thaler, Prémio Nobel da Economia em 2017, isso raramente acontece. Pelo contrário, as nossas decisões económicas quotidianas são frequentemente tomadas tendo em vista uma necessidade imediata, o que nos leva a simplificar as análises sem considerarmos todas as alternativas e consequências.

Veja uma situação com a qual já se deparou com toda a certeza. Por que motivo alguém que se mete no carro para ir a um supermercado onde os detergentes são 1 euro mais baratos não se dá ao trabalho de ir a outra loja para economizar o mesmo valor na compra de um computador de 2000 euros? A poupança é igual nos dois casos, mas para a maioria das pessoas a primeira opção aparenta ser mais vantajosa. Outro exemplo simples é a oferta de brindes. O que nos leva a comprar três produtos de que não precisamos só para receber um extra ou um copo de presente? Ou a ir ao cinema e comprar um pacote de pipocas maior só porque parece ser melhor negócio, quando na verdade não vamos comer tudo e estamos a gastar mais dinheiro…

Não faça contas de cabeça

Encontra a explicação para estas más decisões, em grande parte, nas teorias de Economia Comportamental de Richard Thaler, que lhe valeram o prémio da Academia Real das Ciências da Suécia. Racionalidade limitada, preferências sociais e falta de autocontrolo são alguns dos conceitos explorados e desenvolvidos pelo trabalho deste professor universitário norte-americano, que estuda os vários erros cometidos pelas pessoas quando gerem as suas finanças pessoais, inspirando-se muitas vezes em experiências do campo da psicologia.

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Nudge, Richard Thaler


Num dos seus livros mais mediáticos, escrito em parceria com Cass Sunstein, e intitulado Nudge (traduzido em português como Estímulo, empurrãozinho, toque – Como melhorar as decisões sobre saúde, dinheiro e felicidade), Thaler explica como as teorias económicas clássicas estão erradas ao ignorar o verdadeiro comportamento das pessoas normais, e a forma como esses traços de humanidade afectam sistematicamente as decisões individuais e os resultados do mercado. E dá uma série de exemplos de escolhas precipitadas realizadas pela maioria dos indivíduos em situações diversas, seja numa simples ida ao supermercado ou em momentos mais complexos, como na compra de casa, num empréstimo pessoal, na educação, ou na saúde…

Há um conceito que Thaler descreve como “contabilidade mental” que, embora possa parecer uma forma de gestão financeira, resulta quase sempre em desperdício. Imagine que reserva 5000 euros para ir de férias e que no último dia, ao regressar a casa, ainda lhe sobram 200 euros desse orçamento. É muito provável que gaste esse dinheiro em algo desnecessário, tudo porque na sua cabeça aquele dinheiro já estava destinado a desaparecer.

Outra situação: uma pessoa que recebe 1.500 euros de vencimento mensal e subitamente ganha 1.500 euros no Euromilhões vai muito provavelmente gastar esse dinheiro extra em bens de consumo, como roupa ou diversão, e não investi-lo numa poupança, como ditariam os princípios de racionalidade económica. Isto porque esta contabilidade mental que fazemos quotidianamente tende a dar maior importância ao prazer no presente do que a um benefício futuro (a reforma), ainda que racionalmente todos saibamos que devemos poupar.

Precisa de um empurrão?

Ora é aqui que entra a grande contribuição de Thaler, ao mostrar que alguns destes erros são sistemáticos, que podem ser estudados com modelos económicos, para compreender e prever o comportamento humano, defendendo que, através dos estímulos certos (os tais nudges), é possível influenciar positivamente as pessoas, levando-as a tomar decisões que são do seu melhor interesse (e também da sociedade).

O exemplo mais conhecido de uma medida nudge foi aplicado no aeroporto de Schiphol, em Amesterdão. A ideia passou por colocar um autocolante de uma mosca junto ao ralo do urinol nas casas de banho masculinas, com o intuito de levar “naturalmente” os utilizadores desses urinóis a usar a mosca como um alvo. O objectivo? Diminuir em 80% a quantidade de urina que ia para o chão e paredes, poupando significativamente em produtos de limpeza. Parece-lhe tonto? Talvez, mas também há vários exemplos ditos sérios e muitos políticos influenciados por esta teoria comportamental – como o ex-presidente norte-americano Barack Obama.

Durante a sua administração foi mesmo criado o departamento Social and Behavioral Science Team (entretanto encerrado por Donald Trump), para levar os resultados dos estudos de Economia e Ciência Comportamental ao processo de elaboração de políticas. E, por exemplo, quando se percebeu que os incentivos tributários não eram suficientes para estimular as pessoas a constituírem planos de poupança-reforma, Obama defendeu que as empresas passassem a inscrever automaticamente os seus trabalhadores em planos de poupança-reforma na hora da contratação. Resultado: a maioria passou a aderir de imediato, mesmo tendo a opção de procurar outro plano.

Consultor de governos de países como o Reino Unido e a Dinamarca, Thaler sugere que estas “falhas” das pessoas devem ser aproveitadas para as “empurrar” a tomar as decisões certas (como poupar para a reforma, pagar impostos ou evitar junk food), ainda que preservando alternativas que lhes permitam seguir outros caminhos. É claro que muitos apontam este paternalismo governamental como algo perigoso, mas a verdade é que o próprio sistema de pré-preenchimento das declarações de IRS implementado em Portugal é um bom modelo de uma política nudge. E se é verdade que o sistema permite a alteração dos dados submetidos pelas diversas entidades, a maior parte das pessoas aceita e agradece que os dados lá estejam, não é verdade?

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